A ORIGEM DAS DISJUNÇÕES AMAZÔNIA-MATA ATLÂNTICA: REVELANDO OS PADRÕES E PROCESSOS BIOGEOGRÁFICOS IMPRESSOS EM FILOGENIAS DATADAS

Evidências paleoecológicas, de reconstruções biogeográficas e filogenias moleculares datadas apontam para a existência de corredores que conectavam as florestas úmidas da Amazônia (AM) e da Mata Atlântica (MA) no passado, sobretudo no período de instabilidade climática durante o Mioceno e nos últimos 2 Ma do Pleistoceno. A dinâmica dos processos de vicariância envolvendo a retração das florestas úmidas e expansão das áreas com vegetação decidual de Caatinga podem ter promovido a diversificação em angiospermas ou, alternativamente, os padrões atuais de disjunção da biodiversidade podem ter sido resultado da dispersão biótica a longa distância. Neste estudo, nós identificamos exemplos de distribuição disjunta nos domínios fitogeográficos da Amazônia e Mata Atlântica a partir de amplo levantamento de filogenias moleculares datadas de espécies e linhagens de plantas, sobretudo leguminosas, e comparamos o tempo de divergência com outros táxons de aves, anuros, mamíferos e répteis. Adicionalmente, relacionamos como a atual distribuição disjunta durante a divergência entre linhagens irmãs pode ter sido influenciada por dispersão ou pelos principais eventos geológicos e climáticos da América do Sul nos últimos 20 Ma. Ao todo, são 61 gêneros de leguminosas de origem nativa e ocorrência em ambos domínios, e pelo menos 110 exemplos de disjunções. As médias do tempo de divergência entre espécies de anuros (ca. 21 Ma) e répteis (ca. 16 Ma) são mais antigas do que dos demais grupos de organismos estudados (ca. 5 Ma). Esse padrão pode ser resultante das diferentes tolerâncias fisiológicas a condições ecológicas subótimas e xéricas, somadas às diferentes capacidades de dispersão intrínsecas aos táxons analisados. Os eventos cladogenéticos correspondentes ao Paleogeno, enquanto havia conexão AM-MA, devem ter sido facilitados por geodispersão. As divergências correspondentes ao Mioceno, período de desconexão florestal, podem ter ocorrido por dispersão a longa distância. Já as disjunções do Plio-Pleistoceno podem ter sofrido influência dos eventos históricos de formação total da diagonal seca, da expansão florestal durante os períodos interglaciais e do surgimento de bacias hidrográficas ao longo do gradiente latitudinal da MA. Assim, sugerimos que a dispersão a longa distância, não somente os processos vicariantes de expansão e retração florestal, também teve papel fundamental na determinação da atual distribuição e do padrão filogenético da biodiversidade nas florestas tropicais úmidas extremamente diversificadas do Brasil. 

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Autor: 
DÉBORA CHRISTINA ZUANNY MARTINS DA SILVA