CARACTERIZAÇÃO DA MISTURA TEMPORAL NO LOCUS 2 DA GRUTA CUVIERI

Mistura temporal ocorre quando fósseis encontrados em uma mesma camada apresentam idades diferentes. Determinar se este fenômeno ocorreu ou não é fundamental, pois evita erros em interpretações baseadas no registro fóssil. O objeto de estudo do presente trabalho foi o depósito fossilífero do Locus 2 da Gruta Cuvieri, Minas Gerais, onde estudos prévios identificaram a ocorrência de mistura temporal. Ali foram encontradas duas facies distintas: na camada mais profunda foram encontrados remanescentes de sedimento avermelhado (RBSL) majoritariamente do Pleistoceno (> 11,7 mil anos). Sobre ele depositou-se sedimento amarronzado do Holoceno (BSL). Os fósseis encontrados no RBSL apresentam coloração avermelhada, típica do RBSL. Os subfósseis imersos no BSL apresentam variação na coloração, mas nunca amplamente avermelhados como nos fósseis do RBSL. Nosso objetivo é delimitar de maneira mais precisa a zona de mistura temporal no Locus 2 a partir da reconstrução tridimensional do depósito fossilífero. Para tanto, foram selecionados 415 ossos das partes anatômicas mais abundantes (astrágalos, navículos-cubóides e calcâneos, direitos e esquerdos) de Cervídae, a família mais frequente no depósito e presente tanto no RBSL quanto no BSL. Também foram analisados fósseis de fauna extinta do Quaternário e dois dentes de Cervídae datados que são originários do RBSL. Em seguida, as coordenadas tridimensionais deste material foram plotadas em um gráfico 3d. Este gráfico permite observar a posição espacial de cada um dos ossos/dentes, considerando a sua pigmentação em relação à zona de contato entre as facies e em qual das facies cada um se encontrava inserido. A mistura temporal foi identificada como exclusivamente do RBSL no BSL, estando restrita a zona acima do RBSL e próximo as paredes do Locus. Os únicos ossos que não se conformam ao padrão esperado foram alguns fósseis potencialmente deslocados pelo surgimento de um sumidouro em suas proximidades.