HÁBITOS ALIMENTARES DE SUBULO (CERVIDAE, MAMMALIA) DURANTE EVENTO DE EXPANSÃO POPULACIONAL NO QUATERNÁRIO TARDIO BRASILEIRO

O registro fóssil da Gruta Cuvieri (Minas Gerais) documenta um evento de expansão populacional de Subulo gouazoubira Fisher 1814, Cervidae, que ocorreu próximo à transição Pleistoceno-Holoceno. Em função disso, torna-se relevante explorar causas para essa expansão populacional. Uma hipótese que explicaria o fenômeno seria a mudança nos hábitos alimentares da espécie ao longo do tempo. Neste trabalho essa questão é investigada a partir do estudo dos microdesgastes dentários produzidos durante a mastigação. O presente estudo analisou a superfície oclusal de réplicas do segundo molar (M2) de 20 hemimandíbulas esquerdas, sendo quatro amostras do Pleistoceno e 16 do Holoceno. As feições de microdesgaste dentário (arranhão grosso, arranhão fino, poço grande e poço pequeno) foram analisadas utilizando-se a técnica de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), a partir da qual quatro réplicas foram descartadas e 16 réplicas foram avaliadas. Posteriormente, as feições foram qualificadas e quantificadas de forma semiautomática através do pacote MicroWeaR para a linguagem R de programação. A diferença nas medianas entre as duas épocas foi testada utilizando-se o Teste de Kruskal-Wallis (em função dos resultados do teste de normalidade Shapiro-Wilk) e os dados também foram analisados através da Análise de Componentes Principais (PCA). O teste de Kruskal-Wallis não suporta diferença na dieta ao longo do tempo, e a PCA suporta este resultado. Apesar de não se observar diferenças temporais na dieta, a PCA evidenciou duas tendências de dieta principais a partir da correlação das feições de microdesgaste dentário para as réplicas: dieta mista com frutos, mas dominada por folhas (ramoneadores) e dieta mista com frutos, mas dominada por gramíneas (pastadores). O quantitativo de arranhões separa os dois grandes grupos: ramoneadores e pastadores, enquanto os poços sinalizam haver dieta mista com frutos (alimentos mais rígidos devido à existência de casca espessa e/ou semente dura). Com este estudo foi possível perceber a importância da análise de microdesgastes dentários numa investigação paleoecológica ao se mostrar uma metodologia robusta na identificação dos padrões de dieta e auxiliar na interpretação paleoambiental. Este estudo também aponta alguns dos desafios enfrentados ao inferir dieta a partir de dados dos microdesgastes dentários já que a interpretação pode sofrer interferências por conta da forma de impressão desses desgastes no dente e a possibilidade da sua obliteração por, entre outros fatores, efeitos tafonômicos no contexto cavernícola.
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Autor: 
NADJANE SANDES SANTIAGO
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